terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Momento de opinião pessoal





Vou fazer um "breve" e não extenso comentário pessoal com uma opinião clara sobre o programa F-X2.


Somente para esclarecer de início eu fui favorável em 100% as iniciativas francesas e fui sempre um ardoroso defensor do Dassault Rafale, porém minhas idéias sofreram uma razoável modificação, e as esclareço em sua versão "2.0" definitiva, devidamente "beta testadas", resumindo em versão final, após o processo ter "se encerrado" faltando somente o veredicto do presidente.


1º Ponto e crucial.
Recentemente as coisas mudaram no Ministério da Defesa, a gestão de Nelson Jobim causou diversas mudanças, algumas melhores do que outras mas enfim, o importante é que as coisas parece que andaram muito mais nessa gestão do que em outras.


Figura importante no governo e nome de peso político relativo, Jobim tem um papel que nenhum outro ministro da Defesa jamais teve em um governo Brasileiro desde a criação do ministério ainda nos idos do Governo FHC.


O fato é que Jobim colocou o poder do Ministério da Defesa como realidade, fortaleceu a imagem do ministério e transferiu as aquisições de equipamentos em definitivo para a esfera política, ou seja, civil.
Através de um discurso utilizando como base a END (Estratégia de Defesa Nacional) e a intenção de independência e incentivo a indústria militar brasileira, Jobim (com total aval e apoio de Lula) sustentou a defesa de que a escolha por novos equipamentos e sobre os contratos de fornecimento para as forças deve ter uma avaliação técnica militar e depois uma decisão final civil, levando em consideração aspectos políticos e pensando no futuro e desenvolvimento das indústrias nacionais, ou seja, no futuro e desenvolvimento do país.


A idéia em teoria é linda e espero que seja executada, digo, bem executada, dado que sabemos muito bem como são as decisões políticas no Brasil, em especial as que envolvem diretamente as palavras: "dinheiro" e "contrato".


2º Ponto
O programa que teve seu real início ainda no governo FHC, como programa F-X, teve seus momentos ruins.
Naufragou em sua versão original, sem deixar sobreviventes e levando para o além as esperanças de muitos, mas ressurgiu das cinzas cheio de vigor e esperanças e com novos pontos incluindo a tão falada e extremamente desejada transferência de tecnologia.


O F-X2 do governo Lula, tem seguido em frente e ganhou cartaz na mídia, muito cartaz inclusive. Falou-se mais do F-X2 nos noticiários do que jamais iria imaginar.
Chegamos então em um momento chave onde os concorrentes iniciais e de peso seriam reduzidos à uma "shorlist" e aí veio a primeira baixa:
Sukhoi Su-35 Super Flanker


"Meu Deus", eu pensei, "como isso foi acontecer", a primeira e sonhada opção em meu imaginário, o nêmesis real do ATF (Advanced Tactical Fighter) americano, o terror dos céus europeus, simplesmente aquele tido em teoria como o maior potencial adversário de qualquer jato de combate do mundo, sumiu da concorrência sob alegação de fatores logísticos.


O que parecia ser extremamente ridículo, era obviamente um "ardil", até hoje não se sabe ao certo qual foi a real razão da saída do SU-35 do processo e provavelmente jamais saberemos, mas a "possibilidades" são inúmeras e várias muito possíveis, como (listarei as quais eu mais considero prováveis):
- Razões políticas, contratos grandes de fornecimento de armamentos russos nos colocariam em meio a "nova guerra fria" e como mais um no meio da tradicional rivalidade EUA X Rússia, e ainda estando no "quintal do Tio Sam".
(por essa eu considero melhor procurar outra opção)


- Reais razões logísticas, dado que o Sukhoi SU-35 é uma aeronave muito maior do que qualquer um dos aviões de combate em ação pela Força Aérea Brasileira, e assim seriam necessárias uma série de obras em muitas de nossas bases para receber o "pássaro", além disso os armamentos exclusivamente russos, ou uma necessidade de adaptação para outros armamentos, o que custaria mais caro.


- Fator Qualidade - esse sim é um ponto crítico. Controle de qualidade ainda é algo pouco consistente na Rússia, até hoje os equipamentos lá fabricados sofrem com um antigo pensamento soviético da "quantidade X qualidade", para os soviéticos era melhor algo mais barato em larga quantidade do que algo caro em pena escala.
Com isso os equipamentos russos de hoje ainda não possuem amplo controle de qualidade e este é o ponto proibitivo para produtos russos em diversos mercados.
Recentemente aeronaves russas na Índia sofreram acidentes e seus vôos foram até impedidos por um curto período de tempo. Os resultados das investigações indianas que foram a público foram no mínimo "pouco conclusivos" e em minha opinião foram para abafar o caso.


Enfim, os Russos mesmo se mostraram um pouco decepcionados com a eliminação "precoce", mas de acordo com a 'boca pequena' eles entregaram uma proposta à FAB junto com as finalistas.


Com a saída russa eu me tornei um torcedor francês de carteirinha.


3º Ponto (mes amis):
Sempre fui simpático ao Rafale, por uma razão simples: Ele é o descendente da linhagem dos deltas franceses ou seja, ele é o descendente dos Mirage.


O Mirage III no Brasil só foi realmente bom em seu início de carreira, mas pode-se dizer até que essa aeronave quando aterrou pela primeira vez em solo brasileiro já estava ultrapassado.
Não importa, sua saga e o seu rugido nos 7 de Setembro sempre foram memorávei e eu sempre fui apaixonado pelos deltas.


O Rafale, além do mais é o mais próximo (se não talvez até igual ou mesmo um pouco superior) ao EF-2000 o Eurofighter, e tem como operadora uma Força Aérea que vejo ser mais semelhante à FAB do que as demais forças operadoras dos outros concorrentes.


A Armée de l'air é uma força Aérea que cuida de um país muito menor do que o Brasil, mas não tem as dimensões gigantescas como os EUA e nem as reduzidíssimas da Suécia, as idéias do próprio Rafale demonstram isso.
O caça com um alcance maior do que o JAS 39 Gripen e capacidade de carga maior, sem vantagens em termos de facilidade de manutenção, porém com um aspecto fundamental:
Uma indústria nacional bélica própria assim sendo não há dependência de equipamento militar estrangeiro.


O Rafale, além disso tem variante embarcada e que foi até testado em nosso NAe São Paulo (em seus tempos de Foch francês).


4º Ponto e crucial (my brother of Latin America):
Os EUA não gostam do Brasil.


É isso mesmo, o histórico de negociação com os EUA para equipamentos de alta tecnologia é difícil, e não é só para o Brasil não, porém conosco o caso parece ser mais crítico.


Não sei é a imagem de "não ser um país sério" ou se é algum outro motivo, porém os nossos companheiros de continente são extremamente complicados.
Não gostam de vender seus itens de tecnologia, para isso colocam altos preços e no aspecto de equipamentos militares eles colocam até o Congresso deles para "abençoar" ou não os negócios.


Recentemente tivemos dificuldades para vender aeronaves ALX Super Tucano da Embraer, porque nossos amigos yankee's fabricam alguns dos componentes da aeronave, mais especificamente o sistema de navegação, e não queriam liberar os equipamentos para serem colocados em um Tucano que seria vendido.


Ao menos na minha visão, quando se coloca um produto no mercado e se coloca um preço nele, quem comprar faz com o produto, aquilo que bem entender!


O F/A-18 E/F nos tornaria escravo dos EUA, sua transferência de tecnologia é questionável e não existem razões para que os americanos tenham "crédito" conosco. Eles tem um bom produto, com preço até competitivo, porém as demais contrapartidas arruinam o processo e o histórico destrói qualquer possibilidade.


Por isso o próprio Gripen NG é um problema, pois usa motor americano, mais especificamente o mesmo que equipa o F/A-18 Hornet, e que pode ser vetado, censurado, enfim, o motor americano poderia ser um "Calcanhar de Aquiles" para o jato sueco, como aliás já foi motivo de problema em outras negociações dos suecos


O caso do F/A-18 E/F como um todo é muito mais sério, por mais que o senado americano tenha aprovado a transferência de tecnologia no que se trata especificamente de acesso à "software" o problema ainda persiste em todos os outros componentes do avião.
É fato que a Boeing e suas parceiras no projeto Super Hornet não iriam permitir a fabricação de itens sensíveis no Brasil, inclusive o comentado é que somente partes como fuselagem e asas seriam fabricados no Brasil (pouco seria agregado à Embraer nesse quesito, somente a questão de partes que utilizem materiais compostos, que ainda sim seriam provavelmente importados).


Os equipamentos para o F/A-18 E/F são também motivo de possíveis dificuldades, restrições para a venda de armamentos (o ponto mais grave) e até mesmo a possível dificuldade para a venda de peças de reposição, os EUA fabricam e eles colocam o preço que quiserem e vendem para quem bem entenderem, se interessar.


5º Ponto e complicador geral e irrestrito à todos os concorrentes:
Ninguém vai entregar tecnologia de graça.


No caso do F/A-18 E/F Super Hornet, nós estamos falando de um projeto que é desenvolvido desde a década de 70, ou seja, 40 anos de evolução somente neste avião (fora os conhecimentos e lições de aeronaves do passado que ele herdou), no caso do JAS-39 Gripen e no do RAFALE, nós estamos tratando de projetos da década de 80, onde temos quase 30 anos de evolução, somente nestas aeronaves, ainda devendo considerar os esforços anteriores.


Esse parágrafo longo e talvez confuso serve para ilustrar uma única coisa: TECNOLOGIA NÃO SURGE DO NADA.
É óbvio que bilhões de dólares ou seja lá qual for a moeda, junto de anos de trabalho, muito suor e esforço intelectual foram gastos para se chegar aos produtos em questão e isso não é vendido, ao menos não por preços populares.


A oportunidade de participar do desenvolvimento e ter talvez até co-autoria intelectual como no caso do Gripen-NG é um caso raríssimo e uma oportunidade verdadeiramente tentadora, porém devemos nos lembrar que os suecos gastaram quase 30 anos até agora desenvolvendo o Gripen praticamente que sozinhos e não vão entregar uma co-autoria intelectual para o Brasil assim de "mão beijada".


Para o Super Hornet e RAFALE essa questão de transferência de tecnologia é ainda mais crítica pois ambos são produtos de países que possuem a capacidade de fabricar todo o seus sistemas de armas, do início ao fim, do jato ao armamento passando por todos os sistemas envolvidos para detecção e travamento do alvo e orientação do armamento.
Não é simples entregar essa tecnologia.




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